terça-feira, 10 de março de 2009

Cesar o Valente



A coluna De olho na Capital do amigo Cesar Valente que é colega de DIARINHO, edição desta terça-feira 10/03/09 merece uma boa bizoiáda. E, deve ser lida por aqueles encastelados no poder e os puxas do bigodudo governador LHS, que gosta de bradar o tal "Estado de Excelência". O qui qui qui é isso mesmo?

FALTA DE EDUCAÇÃO
Domingo recebi um press-release da Juventude Popular Socialista de Itajaí e já ia colocando na lixeira (até porque a política de Itajaí e Balneário Camboriú é coberta pelo JC, meu colega aqui da página dois) quando uma coisa me chamou a atenção. Deixei de lado, pra ver depois com mais calma e descobrir, afinal, que coisa era essa.
O começo do texto, formal como todo press-release, informava o motivo da comunicação:
“A Juventude Popular Socialista de Itajaí, órgão de cooperação do Partido Popular Socialista (PPS), vem a publico se solidarizar com os alunos da Escola Estadual Nereu Ramos, pela manifestação no dia de ontem, onde foi reclamada a falta de ventiladores no estabelecimento de ensino.”
Não parecia ser nada muito importante. Nesta onda de calor, certamente inúmeras escolas devem ter sentido falta de ventiladores… Que coisa, né? Numa região onde faz calor em muitas épocas do ano, ninguém se lembrou de dar algum alívio para os usuários, seja com alguma solução arquitetônica, seja com ventiladores?
“A escola encontra-se em obras há mais de dois anos, faltando ainda à construção dos muros e do pátio externo, porém as salas de aula recém inauguradas não possuem ventilador nem tampouco ar-condicionado, regalia esta somente encontrada na sala da direção.
É de conhecimento de todos o calor que estamos vivenciando neste período, sendo assim com as salas abarrotadas de alunos (valendo citar que as mesmas encontra-se em desconformidade com a lei que permite o maximo de 10% de excesso de alunos por sala) o calor torna-se insuportável, ocasionando alguns desmaios e casos de náuseas e pressão baixa.”
E NINGUÉM DIZ NADA?
A escola é estadual. Portanto, sob responsabilidade do sempre atento LHS e do sempre generoso Paulo Bauer. Que têm, pelo que se lê, vê e ouve, outras prioridades. O dia-a-dia das escolas não é charmoso o suficiente para interessar Suas Excelências. E contratos milionários para dotar de atlas finamente produzidos escolas onde crianças desmaiam de calor em salas abarrotadas não parecem estranhos aos que controlam o uso do dinheiro público.
Bem que o Tribunal de Contas, que empombou com o guard-rail da ponte, poderia criar caso com as escolas maravilhosamente pintadas de verde e vermelho, mas sem condições de utilização e conforto em determinados dias do ano. Ou alguma dessas ongs que gostam de encher nosso saco por causa da farra do boi poderia dedicar-se, pelo menos por algumas semanas, a verificar o que fazem com as crianças nas escolas e de que forma lidam as professoras e professores, se é que conseguem, com essa situação toda.
O “ESTADO DE EXCELÊNCIA
O texto do e-mail continua:
“Ao procurar a direção da escola foi comunicado aos alunos que os ventiladores não fazem parte do projeto original, sendo que a instalação dos aparelhos devem ser licitados em breve, ainda o diretor solicitou aos alunos que tragam os ventiladores de casa para evitar qualquer mal estar. No mesmo sentindo da incompetência e do descaso a diretora da secretaria regional alega que jamais foi reclamada a instalação dos aparelhos, portanto não poderia adivinhar o mal estar dos alunos.”
Enquanto lia esse parágrafo, soava-me nos ouvidos a voz entusiasmada do governador LHS, socando o ar, dizendo que este é “um estado de excelência” e gritando, num dos finais apoteóticos de seus discursos, “Viva Santa Catarina!”
Se eu fosse um crente na humanidade, até ligaria para a secretaria da Educação para saber que história é essa. Mas, cético e desapetrechado de paciência, não me disponho a ouvir, de novo, que “este é um caso isolado, reformamos milhões de escolas, nesta houve um problema já identificado, a licitação está sendo realizada e há inclusive má vontade por parte de um grupo que quer fazer uso político do incidente…”
Essa frase entre parênteses foi inventada por mim, com base em coisas que ouvi ao longo do tempo. Dificilmente diriam agora coisa muito diferente disso. Porque não há muito o que dizer diante dos fatos: gastam milhões em tanta coisa supérflua (ou pelo menos não urgente, como o sistema que a dinamarquesa Lego montou para tirar dinheiro das secretarias de educação), mas são incapazes de encomendar projetos decentes a arquitetos competentes.
LHS, o dos discursos, do estado de qualidade, não se preocupa com as coisas essenciais: para um estado de excelência é fundamental ter boas escolas e, dentro delas, bom ensino. Não se constrói nada a partir de nada. Constrói-se a partir de uma base bem formada. Mesmo as indústrias que investirão, a acreditar-se nos números berrados nos discursos do mesmo LHS, R$ 15 bilhões em Santa Catarina, podem rapidamente desistir se perceberem que a mão-de-obra disponível foi mal formada em escolas lindamente pintadas, mas impossíveis de habitar.
É claro que o Eduardo Assis, que assina a nota, e seus companheiros de partido, têm objetivos políticos ao divulgar essa situação. E é para isso que existem partidos políticos. E a única forma de evitar que alguém faça uso político dos malfeitos de quem está no poder, é procurar não deixar rabos tão visíveis em áreas tão sensíveis.
Os jovens da JPS de Itajaí fazem, ao final, apelo a autoridades do ministério público, do conselho tutelar e do judiciário e encaminham solicitação ao deputado Grando (que gosta de ser chamado de deputado Professor Grando), que é do partido deles, o PPS, para que faça alguma coisa.
Ora, o Grando é membro ativo da base do governo, é LHS de quatro costados, intrinsecamente dedicado às causas da situação, pouco poderá fazer, além do que fez ontem: aprovou uma “indicação” na Assembléia, pedindo ao secretário a instalação de ventiladores. Isso poderá ser feito por intermédio de alguma dispensa de licitação ou outro socorro rápido, para retirar a escola do foco das atenções e fazer-nos esquecer o projeto mezza boca.
Quando a poeira baixar, voltará tudo ao seu ritmo normal. E o governo “de excelência”, que não tem tempo para coisas “menores”, poderá retomar seus afazeres, atendendo potentados, dignitários, príncipes sauditas e mega-empresários e presenteando-os com livros ricamente ilustrados, feericamente coloridos, sobre as maravilhas catarinenses.

2 comentários:

Milhouse disse...

Ta mais que certo a JPS, tem é que botar pressão. É só assim que a coisa anda. A inércia de um deputado para que levante o rabo da estofada e refrigerada cadeira do legislativo é a pressão popular. É o barulho chato que os tira do torpor adormecido das regalias palacianas a que tem direito o legislador, não que este não merece, mas que este demonstre resultados. Mostre o seu merecimento. Não é que acontecido. O legislativo estadual é um spa de férias onde ex-prefeitos e ex-lideranças articulam o conchavo para as próximas eleições de olho nas novas licitações. É preciso que o clamor popular os aborreça e os tirem deste estado de topor. Clamem e alta voz e ergam suas bandeiras sem medo, nada adianta murmurar diante do noticiario ou reclamar na roda do buteco. O negócio "é tocar o terror democraticamente" e botar pressão no estado de direito pra ve se coisa anda e sai do discurso vazio.

ALISSON LUIZ MICOSKI disse...

Uma posição que deve ser aplaudida, os movimentos de juventude partidária deveriam atuar muito mais neste sentido, quer seja oposição ou situação. Somente com o exercício da cidadania poderemos melhorar a qualidade da nossa política,
O que me chama a atenção é a ausência óbvia de que estabelecimentos de educação do litoral não tenham previsão de ter ventiladores para que os alunos não passem por esta espécie de tortura, desidratação e tantos outros malefícios, sem falar na redução de seu rendimento escolar. Também queria saber qual a posição da APP destas escolas. Parabéns aos jovens do PPS e que bom que o deputado prof Grando teve esta sensibilidade, quiçá agora consiga do secretário Paulo Bauer um encaminhamento prático e que a direção (que não é eleita e sim cargo de confiança) seja chamada a responsabilidade nesta lamentável idéia de que os alunos que levassem ventiladores prá sala...